sexta-feira, 30 de março de 2012

AVANTE, 65 anos Avante!

Daqui na Rede recupera um pouco da memória do Avante


A Associação Recreativa Cultural Esportiva Avante (ARCE Avante) completa hoje 65 anos de existência e presença permanente no cotidiano do distrito de Santo Antônio de Lisboa. O Daqui na Rede publica a partir de hoje uma série de matérias sobre a gênese do Avante e os esforços por sua consolidação.

Informamos que se trata de um levantamento parcial da trajetória do Avante, com muitas lacunas, tanto de datas e eventos quanto de nomes dos que se empenharam pelo clube. Nosso objetivo é levantar alguns dos principais momentos e personagens, esperando que isso sirva de estímulo ao aparecimento de outras informações, documentos e depoimentos, o que vai enriquecer uma futura publicação.

O Portal de Notícias Daqui na Rede aproveita a passagem dos 65 anos do Avante para parabenizar a atual diretoria, a comissão técnica e jogadores, cumprimento extensivo aos antigos dirigentes e atletas do clube, anônimos e conhecidos, torcedores e simpatizantes.

Avante, 65 anos Avante! (1)
Por Celso Martins

No dia 30 de março de 1947 foi criado na localidade de Rerituba* um clube esportivo de “futi-bol”, com direito a pelota oficial e gramado provisório. Em outras palavras, surgiu na referida data a atual Associação Recreativa Cultural Esportiva Avante (ARCE) de futebol no bairro de Santo Antônio de Lisboa.

Completando hoje, sexta-feira, 30 de março de 2012, exatos 65 anos de existência, o Avante foi desde o início uma instituição central na comunidade, perfilando com a igreja e intendência. O surgimento oficial do Avante, conforme a “Ata da fundação de um clube esportivo”, aconteceu durante reunião no Clube 7 de Setembro, fundado em 1913 e que funcionava em um casarão que pertencia a Isid de Souza Dutra, na rua Padre Serpa.

Estavam presentes os futuros atletas, dirigentes e “crescido número de pessoas que se filiaram para a fundação do Clube Esportivo de Fute-bola”.

O nome, Avante, surgiu durante a assembléia, onde foi “aclamada” a primeira diretoria, integrada pelas principais lideranças políticas e econômicas locais. Quase todos eram ligados à Irmandade do Divino Espírito Santo.

Raul Lisboa

Nascido em 22 de setembro de 1888, Raul Francisco Lisboa era filho de Francisco Frederico Lisboa e de Etelvina Justiniana de Andrade, tendo assumido a liderança política da região com a revolução de 1930 que levou Getúlio Vargas ao poder. Já era um homem formado com 42 anos de idade, quando assumiu a intendência neste mesmo ano, sendo confirmado mais tarde por Nereu Ramos, governador do Estado de 1935 a 1937 e desta data em diante interventor federal.

Lisboa permaneceu neste posto até 1945, quando o fim do Estado Novo promoveu uma série de mudanças políticas, como a redemocratização com a realização de eleições. Vargas, habilmente, criara o Partido Social Democrático (PSD) e também o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O grupo político catarinense que fora deposto em 1930 e fizera oposição a Vargas todo esse tempo, ressurge com a União Democrática Nacional (UDN).

Funcionário público municipal, cabo eleitoral do PSD da família Ramos, Raul retornou à intendência e assumiu o cargo de delegado de Polícia em 1947, ali permanecendo até 1951. Estava no auge de sua carreira e prestígio pessoal, social e político, quando foi escolhido presidente de honra do novo time de “Futi-bol”, legitimando a iniciativa, dando seu aval. Também homeopata respeitado, Raul faleceu em 22 de outubro de 1970.

Altino Cabral

 Se Raul Lisboa encarnava o PSD em Rerituba/Santo Antônio, Altino Dealtino Cabral, escolhido para a presidência do Avante, se alinhava com o trabalhismo inaugurado por Vargas e foi um dos primeiros no Estado a se filiar ao PTB em 1945, ano de sua criação. “Os fundadores do Avante eram em sua maioria ligados ao PSD e ao PTB”, destaca Edenaldo Lisboa da Cunha (Feijão).

Nascido em 22 de março de 1922 na Armação da Piedade (Governador Celso Ramos), filho de Dealtino Antônio Cabral e Etelvina Maria Cabral, Altino começou a vida como agricultor e pescador, atuando por 12 anos como estivador. Casou-se com Dalila Homem Cabral. Saiba mais sobre Altino Cabral em texto do historiador Sérgio Luiz Ferreira, especial para o Daqui na Rede. 


Dirigentes

Outra pessoa de destaque na criação oficial do Avante foi o funcionário público federal (Ministério da Agricultura) Hilton Arêas, primeiro vice-presidente do clube. Numa entrevista ao repórter Felipe Silva (AN Capital, 1.4.2007) ele relembra alguns detalhes daqueles tempos. (Confira aqui)

Manoel Agostinho da Luz, 1º secretário pioneiro do Avante, era o dono do terreno onde foi implantado mais tarde o estádio Henrique de Arruda Ramos. José Bruno Pereira (2º secretário) era da mesma família de Raulino (Pepeco) Ferreira, assim como Josni Pereira, primeiro “cobrador” do Avante, todos afro-descendentes.

A tesouraria estava nas mãos de Arnaldo Lisboa, funcionário público federal (Previdência) e destacado líder político local, filho de Raul Francisco Lisboa e filiado ao PTB. É avô materno do atual presidente do Avante. Como segundo tesoureiro figurava João Manoel Coelho, pescador de Santo Antônio.

Conrado Júlio da Costa, primeiro orador do Avante, estava profundamente envolvido com a igreja, tendo sido provedor da Irmandade do Divino Espírito Santo de 1932 a 1936 e de 1942 a 1944, e festeiro do Divino.

Demais
Valerico João de Souza, escolhido como diretor de campo (equivalente ao atual diretor de futebol), nasceu em 1º de abril de 1888, tendo falecido em 10 de julho de 1967. Foi juiz de paz, diretor do Club 7 de Setembro e do Avante, “mas foi na igreja que se notabilizou”, segundo Sérgio Luiz Ferreira, tendo sido sacristão desde os tempos do padre Serpa até sua morte com 79 anos. “Ajudava o padre nas missas, organizava a irmandade, arrumava os altares, confeccionava os tapetes da procissão de Corpus Christi e montava presépios com arte até hoje comentada. De maio a dezembro saía pelas localidades da freguesia a rezar novenas do Espírito Santo em latim e depois realizava leilões”.
O vice diretor Oséas de Sousa Dutra, também homeopata, era irmão do próspero comerciante da praia das Flores (Sambaqui), Isid Dutra, que foi intendente (1945-1947) e líder local da UDN. Completando a lista dos fundadores oficiais do Avante estão os fiscais João Filomeno (João Capataz), Teodoro Dias (lavrador, pai de Djalma Teodoro Dias, residente na Barreira) e o pescador Heitor Pereira da Rosa.

Pelota

O primeiro passo do novo time de “Fute-bol” foi a “compra da pelota”, com “o batismo da mesma em campo provisório” – o pasto que havia em frente a igreja, atual praça Getúlio Vargas. A madrinha da bola foi a senhora Vanda Maria da Cunha Martins, então com 12 anos de idade, casada com Vicente Martins e residente em Sambaqui.

Foram iniciativas simbólicas, revestidas de grande emoção e que visavam “despertar o entusiasmo no meio” em relação ao novo esporte. Na ocasião o orador Conrado Júlio da Costa, num “improviso sereno”, “exortou os jogadores a se unirem na fundação do presente Club e respeitar a sua Diretoria e a respeitarem-se um ao outro, tanto em campo como nas suas reuniões”. Ele foi ouvido “com verdadeiro silêncio de respeito que muito impressionou a todos os presentes e ao próprio orador”.

Antecedentes

A memória de moradores mais antigos registra a participação de Raulino Ferreira (Pepeco) entre os iniciadores do Avante. Sérgio Luiz Ferreira afirma em livro que o Avante surgiu de um “time de futebol organizado por Raulino Ferreira (Pepeco) no seu rancho de canoa em Sambaqui”. (p. 61)

O atual presidente do Avante, Edenaldo Lisboa da Cunha (Feijão), reconhece que “a idéia nasceu em um rancho de canoa e na roça do senhor Altino Cabral em Sambaqui”, mas prefere enfatizar os nomes dos que constam da ata de fundação do clube e os de seus continuadores.
De qualquer forma o envolvimento de Pepeco como estimulador da prática do futebol na região está presente nessa fase inicial do Avante (mais adiante vai figurar como fiscal), e na fundação do Triunfo de Sambaqui. Por outro lado, a criação de um time de futebol, funcionou como um agregador das lideranças da antiga vila de Santo Antônio. Ou seja, mais que a prática esportiva, o Avante se firmou como pólo social e de entretenimento, difusor cultural, força comunitária a ser considerada pelos partidos políticos, o Legislativo e o Executivo municipais. Foi também o “embaixador” de Santo Antônio nas demais comunidades da Ilha e no Continente, anfitrião que passou a receber visitantes de diferentes procedências.


*Rerituba (abundância de ostras, no tupi-guarani) foi o nome dado a Santo Antônio em 1943, por decreto do interventor Nereu Ramos. Ele atendia a um dispositivo federal que determinava o fim da duplicidade de nomes de unidades administrativas no Brasil. O nome não agradou aos moradores. Por volta de 1950, através de projeto do deputado Pedro Lopes Vieira, coronel da PM, foi retomada a antiga denominação com o acréscimo de “Lisboa”, sobrenome do cabo eleitoral local do parlamentar, Raul Francisco Lisboa.


Fontes:

- FERREIRA, Sérgio Luiz Ferreira. Histórias quase todas verdadeiras – 300 anos de Santo Antônio e Sambaqui. Florianópolis: Editora das Águas, 1998.
- Anotações de entrevistas com Edenaldo Lisboa da Cunha (Feijão), atual presidente do Avante.
- Primeiro Livro Ata do Avante com o assento de sua fundação e anos iniciais.



Texto: Celso Martins
Publicado no Site Daqui na Rede  dia 30/03/2012

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